"Abrir a noite sob a forma de uma fonte" de Rui Magalhães (5 de Janeiro) - pensamentos suscitados
“Abrir a noite sob a forma de uma fonte” reclama de mim que me liberte de hábitos de leitura tenham-me eles granjeado um olhar que se molda ao texto envolvendo-o e penetrando-o, ou esse outro olhar que vai às margens do texto buscar a energia que lá encontra para se servir dela na desconstrução, não do texto (de uma natureza que a contempla) , mas do objecto que o olhar moldável construiu. O poema exige a rejeição de toda a perícia de que porventura o meu modo de ler se tenha vindo assim a dotar com o hábito de análise de outros textos.
Resisto à sedução de uma leitura emotiva que envolveria entregar-me a essa doce ociosidade deleitosa tanto mais doce e deleitosa quanto não faço de mim mesma enunciatária, antes do próprio autor do poema. É assim que o poema entra na vida e a vida no poema deixando de poder saber ao certo de que lado estou.
Enquanto escuto estas palavras “Abrir a noite sob a forma de uma fonte” na voz silenciosa que me permite, olhando-as, escutá-las, são imagens que irrompem, "prodigiosas", sim, sem dúvida... A minha conhecida noite, ou o que conheço da noite quando dela falo ou nela penso, abre-se não a um conhecimento outro dela, mas a uma outra forma de a conhecer, não mais minha sendo só; como se nela uma fonte brotasse rompendo-a nesse ponto. A fonte de um outro olhar. Isto sobressalta...(não é só a um eco rilkeano que estou a dar voz).
Continuarei.
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