Tradução de "Desire"
Desejo
1
Por me dares o desejo,
uma sede ávida, um fogo aceso e ardente,
uma chama virgem e inocente,
um amor com que ao mundo vim,
um íntimo, oculto e celeste amor,
e sempre sempre me inflamava,
com uma avidez inquieta, ansiosa e celestial,
que jamais poderia ser saciada,
e incessantemente um paraíso sugeria
desconhecido, e alguma coisa indistinta
discernia e até ela me trazia,
seja o Teu nome para sempre por mim louvado.
2
Ressequidos os meus mirrados ossos
e olhos pareciam: a minha alma cheia de gemidos:
os meus pensamentos eram prolongamentos:
como passos e passadas me apareciam:
e com ardor prosseguiam,
sabiam que não tinham o que lhes era devido;
nem nunca estavam sossegados:
da minha carne um solo faziam sedento e faminto,
do meu coração um fundo e profundo abismo,
e de cada alegria e prazer uma ferida,
enquanto da minha ventura sentisse a falta.
Ó felicidade! Uma fome arde
e toda a minha vida verte em ansiedade.
3
Onde estão as silenciosas correntes,
as águas vivas e os gloriosos raios
os recantos amenos e revivificantes,
os bosques frondosos, as doces flores curiosas,
as árvores e nascentes , os dias celestiais,
os prados floridos, a luz gloriosa,
as torres de ouro e de prata?
Ai, todas estas coisas são agora pobres e vazias,
árvores, águas, dias e fulgentes raios
frutos, flores, recantos, bosques frondosos e nascentes,
silenciosas correntes não me darão alegria.
Mais não são que mortos brinquedos materiais,
e não podem fazer as minhas celestiais alegrias .
4
Ó amor! vós dilecções,
e amizades, que apareceis acima dos céus!
Vós festas e vivos prazeres!
Vós sentidos, honras e tesouros imperiais!
Vós alegrias nupciais! Vós excelsos deleites
que todos os apetites satisfazem!
Vós doces afeições e
Vós altos apreços! Alegrias que haja
nos triunfos, que se encontrem
na amigável e doce sociedade,
prazeres que estejam na sua mão direita
deveis, antes de me devotar a Deus,
em plena propriedade ser meus.
5
Esta excelsa e sagrada sede,
embaixadora da ventura, primeiro se achegou,
e tomou lugar em mim,
e me fez saber prezar, saborear e ver,
pois não são os objectos, mas a compreensão
das coisas que dispensa às almas a ventura
e a faz, Senhor, semelhante a ti.
Sentir, tocar, saborear, fruir e ver
tais são as verdadeiras e reais alegrias,
Os prazeres vivos adentro fluindo, liquescentes,
fulgurantes e celestiais (brinquedos tudo o mais):
e todos no desejo se sustentam
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