o "tu" privilegiado
Vejo um paralelismo entre o que aconteceu (e me leva a estar a escrever aqui) e o que possa ter acontecido na vida de T.T. para que tenha passado a falar de si mesmo na terceira pessoa, como se fosse outro aquele que, dirigindo-se à mesma destinatária, acrescenta um livro IV e um incompleto V aos três anteriores. Penso que T.T. precisava de um "tu" privilegiado a quem dirigir a escrita. Mesmo as Select Meditations têm em vista pessoas concretas (já o referi num post anterior)...
T.T. atribui esta necessidade ao próprio Deus: want diz ao mesmo tempo o querer e a falta que origina esse querer. O mistério está em que faça depender da criatura (e para tal ela é livre de dizer sim ou não) a satisfação do desejo e a supressão da falta. Por isso Lhe é infinitamente grato o sim da criatura, desta criatura concreta, para Ele única. E dizer sim é acolher e fruir plenamente os Seus dons, inclusivamente o dom de Si mesmo em todas as coisas e em cada uma. Nesta base tão simples, Ele sofre (e sofrer é também suportar) a falta não suprida, o vazio do "tu" na dinâmica trinitária, única na infinita multiplicidade do que é.
Pergunto-me se na tua escrita não experimentarás esta falta e não a desejarás suprir como na vida...
O T.T. reconhecia que não nos é possível ser, como Deus, plenamente para cada um como se ele só existisse. No entanto é o que desejo do "outro" que privilegio (o privilégio é tomá-lo como "tu", que é também o privilégio que Deus faz a cada um, único para Ele, a todo o momento).
Deixo os parágrafos (C, 2: 72-73) para reflexão (a tradução é minha):
72
O que faz o espanto infinitamente infinito é isto: que uma só alma que é o objecto da minha possa ver todas as almas e todos os espaços secretos e perfeições sem fim em cada alma: sim e todas as almas com todos os seus objectos em cada alma. A minha, porém, pode acompanhar todos estes numa só alma: e sem deficiência exceder essa alma e acompanhar todos estes em cada uma das outras almas.
73
Aqui na Terra onde o nosso estado é imperfeito talvez isto seja impossível; mas no Céu em que a nossa alma é toda acto cumpre-se necessariamente: pois aí a alma é tudo quanto pode ser. Aqui é exultar no que poderá ser. Portanto, até serem removidas a névoa do erro e as nuvens da ignorância que limitam este sol, ele está necessariamente presente de uma forma virtual em todos os espaços e tempos como o Sol está de noite, se não pela clara visão e pelo amor, pelo menos pelo desejo. São estas as suas influências e os seus raios, operando na terra de uma maneira latente e obscura, lá em acima de uma forma potente e clara.
72
Here is a glorious creature! But that which maketh the wonder
infinitely infinite, is this: That one soul, which is the object of
mine, can see all souls, and all the secret chambers, and endless
perfections in every soul: yea, and all souls with all their objects in
every soul: Yet mine can accompany all these in one soul and without
deficiency exceed that soul and accompany all these in every other
soul. Which shows the work of God to be deep and infinite.
73
Here upon Earth perhaps where our estate is imperfect this is
impossible: but in Heaven where the soul is all Act it is necessary:
for the soul is there all that it can be: Here it is to rejoice in what
it may be. Till therefore the mists of error, and clouds of ignorance,
that confine this sun be removed, it must be present in all kingdoms
and ages virtually, as the Sun is by night, if not by clear sight and
love, at least by its desire. Which are its influences and its beams,
working in a latent and obscure manner on earth, above in a strong and
clear.
T.T. atribui esta necessidade ao próprio Deus: want diz ao mesmo tempo o querer e a falta que origina esse querer. O mistério está em que faça depender da criatura (e para tal ela é livre de dizer sim ou não) a satisfação do desejo e a supressão da falta. Por isso Lhe é infinitamente grato o sim da criatura, desta criatura concreta, para Ele única. E dizer sim é acolher e fruir plenamente os Seus dons, inclusivamente o dom de Si mesmo em todas as coisas e em cada uma. Nesta base tão simples, Ele sofre (e sofrer é também suportar) a falta não suprida, o vazio do "tu" na dinâmica trinitária, única na infinita multiplicidade do que é.
Pergunto-me se na tua escrita não experimentarás esta falta e não a desejarás suprir como na vida...
O T.T. reconhecia que não nos é possível ser, como Deus, plenamente para cada um como se ele só existisse. No entanto é o que desejo do "outro" que privilegio (o privilégio é tomá-lo como "tu", que é também o privilégio que Deus faz a cada um, único para Ele, a todo o momento).
Deixo os parágrafos (C, 2: 72-73) para reflexão (a tradução é minha):
72
O que faz o espanto infinitamente infinito é isto: que uma só alma que é o objecto da minha possa ver todas as almas e todos os espaços secretos e perfeições sem fim em cada alma: sim e todas as almas com todos os seus objectos em cada alma. A minha, porém, pode acompanhar todos estes numa só alma: e sem deficiência exceder essa alma e acompanhar todos estes em cada uma das outras almas.
73
Aqui na Terra onde o nosso estado é imperfeito talvez isto seja impossível; mas no Céu em que a nossa alma é toda acto cumpre-se necessariamente: pois aí a alma é tudo quanto pode ser. Aqui é exultar no que poderá ser. Portanto, até serem removidas a névoa do erro e as nuvens da ignorância que limitam este sol, ele está necessariamente presente de uma forma virtual em todos os espaços e tempos como o Sol está de noite, se não pela clara visão e pelo amor, pelo menos pelo desejo. São estas as suas influências e os seus raios, operando na terra de uma maneira latente e obscura, lá em acima de uma forma potente e clara.
72
Here is a glorious creature! But that which maketh the wonder
infinitely infinite, is this: That one soul, which is the object of
mine, can see all souls, and all the secret chambers, and endless
perfections in every soul: yea, and all souls with all their objects in
every soul: Yet mine can accompany all these in one soul and without
deficiency exceed that soul and accompany all these in every other
soul. Which shows the work of God to be deep and infinite.
73
Here upon Earth perhaps where our estate is imperfect this is
impossible: but in Heaven where the soul is all Act it is necessary:
for the soul is there all that it can be: Here it is to rejoice in what
it may be. Till therefore the mists of error, and clouds of ignorance,
that confine this sun be removed, it must be present in all kingdoms
and ages virtually, as the Sun is by night, if not by clear sight and
love, at least by its desire. Which are its influences and its beams,
working in a latent and obscure manner on earth, above in a strong and
clear.
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