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"Whether it be the Soul itself, or God in the Soul, that shines by Lov, or both, it is difficult to tell: but certainly the Lov of the Soul is the sweetest Thing in the world." (Thomas Traherne, Centuries 4:83).

Thursday, July 29, 2010

A visão de T.T. da origem do mal

T.T. relaciona com a origem do mal a recusa do amor de Deus (dádiva que faz de Si mesmo), recusa esta que se reflecte na indiferença face a esse mesmo amor. Esta indiferença deve-se, diz, a uma re-orientação do olhar da criança para coisas sem verdadeiro valor, meros «brinquedos» (toys) com que a distraem daquele «Algo de grande» para que está voltada. Tais «brinquedos» serão as coisas inúteis e vazias a que os «costumes dos homens» dão um valor que não têm e que se tornam perigosas na medida em que desviam a alma do caminho da verdadeira felicidade.
Ao longo de toda a obra, T.T. reitera a constatação de que o mal provém, sem margem de dúvidas, do interior do homem (das suas «entranhas corruptas») e não de Deus que, a não consenti-lo, privaria o homem da liberdade no acto crucial em que Lhe diz “sim”, podendo dizer-Lhe “não”.

Tal como é tematicamente recorrente nos Poemas a exaltação da bondade essencial das criaturas (a corroborar as palavras do Génesis «E Deus viu que era bom»), recorrente é também a alusão ou mesmo a referência ao mal como meio de, pela negativa, exaltar o seu contrário. E, assim como, na orientação certa, a via é já a meta, também na orientação errada o mesmo acontece – e Traherne fala de «distracção», «erro» e «pecado», associando-lhes todos os males que afectam aqueles que, olhando noutras direcções, se deixaram perder no caminho.

A palavra, que começa por ser o próprio «Sopro de Deus», quando sai da boca dos homens e mulheres de «corruptas entranhas», constitui o «sopro danado» que conspurca a inocência e infunde no mundo o pecado e a morte:


Sin and Death
Are most infused by accursed Breath,
That flowing from Corrupted Intrails, bear
Those hidden Plagues that Souls alone may fear.

Trad.
o pecado e a morte
mais são infundidos pela respiração perversa,
que, correndo de corruptas entranhas, comporta
essas ocultas pragas que as almas só têm a temer.


Em Four Quartets T.S. Eliot parece reiterar esta percepção numa forma singularmente próxima de verbalização:

«[...]
Wind in and out of unwholesome lungs
Time before and time after.
Eructation of unhealthy souls
Into the faded air,[...]»

Infelizmente não perde actualidade esta repugnante imagem do «sopro/espírito danado» (accursed Breath), em tudo contrário ao Espírito/Sopro/ respiração de Deus (the breath of God). Nada pode, porém, e nada é, ante o Espírito Santo.

A visão de T.T. da origem do mal é um tema que suscita hoje especial reflexão. Apenas o delineei, mas será um ponto de partida.

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