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"Whether it be the Soul itself, or God in the Soul, that shines by Lov, or both, it is difficult to tell: but certainly the Lov of the Soul is the sweetest Thing in the world." (Thomas Traherne, Centuries 4:83).

Saturday, February 06, 2010

"still will grow"

De "Dumnesse" colhi este passo:

(...)Sure Man was born to Meditat on Things,
And to Contemplat the Eternal Springs
Of God and Nature, Glory, Bliss and Pleasure;
That Life and Love might be his Heavnly Treasure:
And therfore Speechless made at first,
that he
Might in himself profoundly Busied be
:

(...)
Yet the first Words mine Infancy did hear,
The Things which in my Dumness did appear,
Preventing all the rest, got such a root
Within my Heart, and stick so close unto't
It may be Trampld on, but still will grow;
And Nutriment to Soyl it self will owe.

The first Impressions are Immortal all:
And let mine Enemies hoop, Cry, roar, Call,
Yet these will whisper if I will but hear,
And penetrat the Heart, if not the Ear.

T.T., "Dumnesse"

O enfoque na dimensão interpessoal como ponto de partida numa aproximação de Traherne, se fez incidir a luz num factor de suma importância na dinâmica de que resulta a sua escrita, tão única, individual e irrepetível como a voz ou a impressão digital no plano físico, deixou ao mesmo tempo menos iluminada a dimensão ideacional (representacional e experiencial) embora ela seja a mais imediatamente apercebida e como tal designada por "conteúdo". Ainda que na consciência da sua inseparabilidade da "forma" - como é habitualmente percepcionada a dimensão textual - na sombra fica sempre, afinal, o que determina esta mesma "forma", assim como a própria dinâmica em que interagem as três (e não duas) dimensões, numa relação de mútua implicação.

Se a escrita dos Poemas se pode fazer remontar à fase inicial da sua vida e obra, aquela em que o lago, que há-de transbordar, tem primeiro de se encher, certo é que não só se prolonga pela segunda fase (transbordando, o lago continua a manter-se cheio), como dá lugar a uma terceira fase em que os mesmos poemas, que Traherne compila para uma possível publicação (que não chega a acontecer), são nesta deliberada retoma mais do que o rasto deixado por uma primeira etapa ou ciclo do percurso, representando o alargamento do ciclo final. Nem cumulativo, nem dialéctico, o percurso faz-se, como o dá a ver Rilke num dos primeiros poemas do Livro das Horas, "por anéis crescentes", em que os mesmos grandes temas recorrem acrescidos sempre de um "mais" que a sua recapitulação revela, um "mais" que, projectando-os num presente aberto ao por vir, lhes confere uma nova e mais clara definição. Por "temas" entendo, assim, núcleos poéticos, no plano da escrita como no plano da vida.
O tema da infância em Traherne difere do mesmo tema em Wordsworth, por exemplo. Traherne (como D.H.Lawrence com quem é neste aspecto comparável) falaria de bom grado em "splendour in the grass" e em "glory in the flower", mas nunca circunscreveria tal esplendor e tal glória a um momento ou "hora" "que nada pode trazer de volta":

"Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass, of glory in the flower;
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind;
In the primal sympathy
Which having been must ever be"
(Wordsworth)

Não é desta natureza a "força" de Traherne, não radicando no que "fica para trás", mas no que é presente e em constante e fecundante crescimento, dentro e fora de si:

"Yet the first Words mine Infancy did hear,
The Things which in my Dumness did appear,
Preventing all the rest, got such a root
Within my Heart, and stick so close unto't
It may be Trampld on, but still will grow;
And Nutriment to Soyl it self will owe
"
(Traherne)

Quando Traherne revela à sua enunciatária a herança que lhe cabe - ela é "herdeira da terra" - é à "compreensão" que lhe abre os olhos, àquela "compreensão" que, indistinta da graça, fará o mar correr-lhe nas veias, vesti-la o céu e coroá-la as estrelas. Poderia acrescentar: e , "tocando a terra", contemplar e sentir o esplendor na erva, a glória na flor.

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