Textiverso Cecília B.

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"Whether it be the Soul itself, or God in the Soul, that shines by Lov, or both, it is difficult to tell: but certainly the Lov of the Soul is the sweetest Thing in the world." (Thomas Traherne, Centuries 4:83).

Saturday, December 19, 2015



Sunday, January 29, 2012

«His Goodness made thy Soul so Great a Treasure To Thee and Him»

Thomas Traherne, Poems and Thanksgivings: Another (p: 165-167)

1
He seeks for ours as we do seek for his.
Nay O my Soul, ours is far more His Bliss
Then his is ours; at least it so doth seem
Both in his own and our Esteem.

2
His Earnest Lov, his Infinit Desires,
His Living, Endless, and Devouring fires,
Do rage in Thirst, and fervently require
A lov, tis Strange it should desire.

3
We cold and Careless are, and scarcely think
Upon the Glorious Spring wherat we Drink.
Did He not lov us, we could be content.
We Wretches are Indifferent!

4
He prizes our Lov with infinit Esteem.
And seeks it so that it doth almost seem
Even all his Blessedness. His Lov doth prize
It as the only Sacrifice.

5
Tis Death my Soul to be Indifferent,
Set forth thy self unto thy whole Extent,
And all the Glory of his Passion prize,
Who for Thee livs, who for Thee Dies.

6
His goodness made thy Lov so Great a Pleasure,
His Goodness made thy Soul so Great a Treasure
To Thee and Him: that thou mightst both inherit
Prize it according to its Merit.

7
There is no Goodness nor Desert in Thee,
For which thy Lov so Coveted should be,
His Goodness is the fountain of thy Worth
O liv to lov and set it forth.

8
Thou Nothing givst to Him, he gav all Things,
To Thee, and made Thee like the King of Kings.
His Lov the fountain is of Heaven and Earth
The Caus of all thy Joy and Mirth.

9
Thy Lov is Nothing but it self, and yet
So infinit is his, that He doth set
A value infinit upon it. Oh!
This, canst thou Careless be, and Know!


10
Let that same Goodness, which is infinit,
Esteems thy Lov with Infinit Delight,
Tho less then His, Tho Nothing, always be
An Object Infinit to Thee.

11
And as it is the Caus of all Esteem,
Of all the Worth which in thy Lov doth seem,
So let it be the Caus of all thy Pleasure
Causing its Being and its Measure.

Friday, July 08, 2011

«overflowing»: «the Highest Service a Man can do you»

Centuries, 1: 11
Lov is Deeper than at first it can be thought. It never ceaseth but in Endless Things. It ever Multiplies. Its Benefits and its Designes are always Infinit. Were you not Holy Divine and Blessed in Enjoying the World, I should not care so much to Bestow it. But now in this you accomplish the End of your Creation, and serv God best, and Pleas Him most: I rejoyce in Giving it. For to Enable you to Pleas GOD, is the Highest Service a Man can do you. It is to make you Pleasing to the King of Heaven, that you may be the Darling of His bosom.


Trad.:

O amor é mais profundo do que a princípio se pode pensar. Nunca acaba senão em coisas sem fim. Multiplica-se sempre. Os seus benefícios e os seus desígnios são sempre infinitos. Não fosseis vós santa, conhecedora das coisas de Deus e bem-aventurada na fruição do mundo, não me preocuparia tanto em vo-lo proporcionar. Mas, como nisto realizais o fim para que fostes criada e servis melhor a Deus e mais Lhe agradais: exulto de alegria em o dar. Pois capacitar-vos a agradar a Deus é o maior serviço que um homem vos pode prestar. É tornar-vos grata ao Rei do Céu, para que sejais a dilecta do Seu íntimo.

Wednesday, December 01, 2010

«à plusieurs voix»

Derrida termina com estas palavras a sua Psyché, Invention de l'autre: «l'autre appelle à venir et cela n'arrive qu'à plusieurs voix».

Numa animação de mau gosto (não tendo chegado até nós nenhum retrato de Traherne a escolha recaiu sobre um de Milton) alguém responde ao apelo oferecendo como «suporte» a sua própria voz. Perguntaria relativamente a esta oferta: est-ce que «cela arrive»? Caberá a quem escuta senti-lo (ou não).

Dispensaria a animação do retrato de Milton, embora tenha de admitir que se aproxima notavelmente da imagem que sempre se me configurou de Traherne e que ressurge nos vitrais da capela que lhe é consagrada na catedral de Hereford.



Wednesday, November 10, 2010

Spirit and Love

É como plenitude que Thomas Traherne concebe um amor em que se desfazem as ambiguidades porventura suscitadas pela ligação que na escrita estabelece com aquela de quem faz enunciatária. Com efeito, ele insiste não só na necessidade da não centração do amor num só objecto, alargando-o a todos (cf. C 2: 66; 68), mas sobretudo na natureza “divina e santa” deste amor descentrado e alargado (cf. C 2: 69). 

Sendo pleno, por definição, nada deixa de fora. Não é de surpreender que não exclua o corpo, antes o contemple como parte integrante do ser humano. Destaco o parágrafo 51, não apenas por aflorar este tópico, mas principalmente pelo que permite entender subjacente ao facto de se dirigir a si mesmo com o pronome de segunda pessoa “thou” (utiliza a forma, na altura, de deferência you - vós - para a enunciatária) e pela inferência que autoriza, na concepção antropológica que vê o ser humano como uma tríade de corpo, alma e espírito, a identificação do "espírito" com o amor (e.g. «Thy Lov can see GOD and Accompany His Lov throughout all Eternity»). 

Numa verbalização metafórica, dá conta desta essência trina do ser humano, onde o amor e o espírito são um e o mesmo: 

«It [Thy Body”] was given thee to be a Lantern only to the Candle of Lov that shineth in thy Soul».

Monday, November 01, 2010

The Communion of Saints

Escolhi para o dia de hoje, dia de Todos os Santos, este passo de Centuries (a gravura colhi-a aqui):

1: 81
My goodness extendeth not to Thee, O Lord, but to Thy Saints, and to the excellent in the Earth in whom is all my delight. To delight in the Saints of God is the way to Heaven. (...)

1: 82
But there are a sort of Saints meet to be your companions, in another manner, but that they be concealed. (...) You may know them by their lustre, and by the very desire and esteem they have of you when you are virtuous. (...) Beginners and desirers will give you the opportunity of infusing yourself and your principles into them. Practicers and growers will mingle souls and be delightful companions. The sublime and perfect, in the lustre of their spirit, will show you the Image of Almighty God and the joys of Heaven. They will allure, protect, encourage, comfort, teach, honour and delight you. But you must be very good, for that is the way to find them. And very patient to endure some time, and very diligent to observe where they are.


Tradução:
1:81 O meu bem não se estende só a Ti, ó Senhor, mas aos teus santos, e aos excelentes na Terra em quem está todo o meu deleite. Deleitar-me com os santos de Deus é o caminho para o céu. (...)

1: 82 Mas há uma espécie de Santos a serem vossos companheiros, de uma outra maneira, mas que estão ocultos. (...) Podeis conhecê-los pelo seu brilho, e pelo próprio desejo e amor que vos têm quando sois virtuosa. Os que começam e anseiam (...) dar-vos-ão oportunidade de infundirdes neles os vossos princípios e vós mesma. Os que praticam e crescem misturarão [as suas] almas [com a vossa] e serão companheiros deleitosos. Os sublimes e perfeitos, no brilho do seu espírito, mostrar-vos-ão a imagem do Deus Todo-Poderoso e as alegrias do Céu. Hão-de atrair-vos, proteger-vos, encorajar-vos, confortar-vos, ensinar-vos, honrar-vos e deleitar-vos. Mas deveis ser muito boa, pois é esse o caminho para os encontrar. E ser muito paciente para suportardes algum tempo [de espera], e muito diligente para observardes onde estão.

«Profitable wonders»

Traherne terá desejado ter com a «alma gentil» que suscita a que com ele suba a colina uma «ligação» que nada tem a ver com o amor romântico (seria muito avant la lettre) ou com qualquer outra forma sublimada de amor no plano terreno. Estou convicta de que a destinatária de Traherne, se o compreendeu, viu no afastamento geográfico uma forma não de cortar, mas paradoxalmente de estreitar tais laços, razão por que moveu influências no sentido de o distanciar de si, como, de facto, o conseguiu. A verdade é que, se aquelas «cem milhas» os não separassem, ele não teria certamente escrito Centuries...  
Adquiri o livro dela, A collection of Meditations and Devotions, mas tenho de admitir que pouco ou nada encontrei a confirmar esta possibilidade. Mantenho, porém,  a leitura de que  o desejo de Traherne seria o de uma ligação, já no "aqui", entre as «novas criaturas»  em que, «de claridade em claridade», se iam transformando para habitarem um dia «a nova terra, sob novos céus» . Uma ligação  desta natureza propiciaria já neste mundo o aperfeiçoamento mútuo,  pois que cada um, seguindo o seu próprio caminho, ajudaria o outro a vencer os obstáculos que se lhe fossem deparando no percurso.
Um projecto de viagem que não deixa indiferente quem ler as Centúrias. «Profitable wonders» poderia intitular-se, como alguém o alvitrou.

Wednesday, September 22, 2010

«Pure and Virgin Apprehensions »

A abrir o  livro 3 das Centúrias, o mais autobiográfico, Traherne escreve, dirigindo-se, ainda e sempre, àquela a quem as destina:

3: 1
«Will you see the Infancy of this sublime and celestial Greatness? Those Pure and Virgin Apprehensions I had from the Womb, and that Divine Light wherewith I was born are the Best unto this Day, wherein I can see the Universe. By the Gift of GOD they attended me into the World, and by His Special favor I remember them till now.»

Trad.:
Quereis ver a infância desta sublime e celestial grandeza? Aquela visão pura e intacta das coisas que tive desde o ventre materno e a luz divina com que nasci são até ao dia de hoje o de melhor tenho e em que posso ver o universo. Por dádiva de Deus acompanharam-me ao mundo e por Seu especial favor  até agora os recordo

Um dos passos antológicos de Traherne (que já aqui trouxe) surge logo a seguir (3§), em que quer comunicar à sua enunciatária  esta  «visão pura e intacta das coisas» que, por especial graça, lhe persiste na memória. E é de um campo de trigo, dentro e fora do tempo, a imagem que lhe oferece do que desse modo via: «The Corn was Orient and Immortal Wheat, which never should be reaped, nor was ever sown».

O que é visto e quem vê são um todo neste olhar.