Textiverso Cecília B.

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"Whether it be the Soul itself, or God in the Soul, that shines by Lov, or both, it is difficult to tell: but certainly the Lov of the Soul is the sweetest Thing in the world." (Thomas Traherne, Centuries 4:83).

Saturday, June 20, 2009

"He made our Souls to make his Creatures Higher"

O poema "Amendment" (que traduzo por "Suplemento") é longo, por isso só aqui deixo as duas últimas estrofes:

6.
Thy Soul, O GOD, do
th prize
The Seas, the Earth, our Souls, the Skies
As we return the same to Thee;
They more delight thine Eys
As unto Thee we Offer up the same
Then as to us, from Thee at first they came.

7.
O how doth Sacred Lov
His Gifts refine, Exalt, Improve!
Our Love to Creatures makes them be
In thine Esteem above
Themselvs to Thee
O here his Goodness evermore admire
He made our Souls to make his Creatures Higher.





Tradução (minha):

6.
A Tua alma, ó Deus, preza
os mares, a terra, as nossas almas, os céus,
quando os mesmos Te devolvemos;
mais deleitam os Teus olhos,
e mais doces são
quando a Ti os mesmos oferecemos
do que quando até nós de Ti vieram.


7.
Oh como o amor sagrado
as Suas dádivas apura, exalta, melhora!
O nosso amor às criaturas torna-as
em Teu apreço acima
de si mesmas para Ti!
Oh aqui a Sua bondade para sempre admira
Ele fez as nossas almas para elevar as suas criaturas.

Thursday, June 11, 2009

"Hoc est enim corpus Meum": "The Salutation", um hino ao mistério do corpo

A escolha deste poema de Traherne para o dia de hoje (dia do Corpo de Deus) é-me suscitada pela reflexão do Viandante de quem transponho as palavras com que termina, abrindo à nova claridade em que nos dá a ver este mistério que é o corpo: " o corpo é mais do que um elemento físico e biológico, o corpo humano, com tudo o que contém, é um mistério e um caminho que leva o homem para além daquilo que é meramente humano, ou, dito de outra forma, sendo humano é, por isso mesmo, sobre-humano."


The Salutation

These little Limmes,
These Eys and Hands which here I find,
These rosie Cheeks wherwith my Life begins,

Where have ye been,? Behind

What Curtain were ye from me hid so long!

Where was? in what Abyss, my Speaking Tongue?

2

When silent I,

So many thousand thousand yeers,

Beneath the Dust did in a Chaos lie,

How could I Smiles or Tears,

Or Lips or Hands or Eys or Ears perceiv?

Welcom ye Treasures which I now receiv.

3

I that so long

Was Nothing from Eternitie,

Did little think such joys as Ear or Tongue,

To Celebrat or See:

Such Sounds to hear, such Hands to feel, such Feet,

Beneath the Skies, on such a Ground to meet.

4

New Burnisht Joys!

Which yellow Gold and Pearl excell!

Such Sacred Treasures are the Lims in Boys,

In which a Soul doth Dwell;

Their Organized joynts, and Azure Veins

More Wealth include, then all the World contains.

5

From Dust I rise,

And out of Nothing now awake,

These Brighter Regions which salute mine Eys,

A Gift from GOD I take.

The Earth, the Seas, the Light, the Day, the Skies,

The Sun and Stars are mine; if those I prize.

6

Long time before

I in my Mothers Womb was born,

A GOD preparing did this Glorious Store,

The World for me adorne.

Into this Eden so Divine and fair,

So Wide and Bright, I com his Son and Heir.

7

A Stranger here

Strange Things doth meet, Strange Glories See;

Strange Treasures lodg’d in this fair World appear,

Strange all, and New to me.

But that they mine should be, who nothing was,

That Strangest is of all, yet brought to pass.

Uma tentativa (inglória) de tradução:

1

Estes membros pequeninos,

estes olhos e mãos que encontro aqui,

estas rosadas faces com que a minha vida começa,

Onde estivestes? Atrás de que cortina

de mim ocultos estivestes tanto tempo?

Onde foi? em que abismo a minha língua que agora fala?

2

Quando em silêncio

tantos milhares e milhares de anos

sob o pó num caos jazia,

como poderia de lágrimas ou sorrisos,

de mãos ou lábios, olhos ou ouvidos ter a percepção?

Bem vindos sejais tesouros que recebo agora.

3

Eu que por tanto tempo

nada fui na eternidade,

mal pensava ver ou celebrar

alegrias tais que ouvido ou língua:

ouvir tais sons, tocar tais mãos, tais pés

conhecer sob os céus, sobre tal chão.

4

Alegrias acabadas de polir!

Que ouro ou pérolas excedem em brilho!

Tesouros sagrados são nas crianças

os membros do corpo em que uma alma mora;

as veias azuis e as articulações perfeitas

mais riqueza contêm que todo o mundo em si.

5

Do pó me ergo,

e do nada desperto agora,

estes radiosos espaços que saúdam os meus olhos

como dádiva os tomo de DEUS.

A terra, os mares, a luz, o dia, os céus,

o Sol e as estrelas são meus; se lhes der apreço.

6

Muito tempo antes

de no ventre da minha mãe ser concebido,

um DEUS providente toda esta glória reservou

e o mundo enfeitou para mim.

A este Éden tão divino e belo,

tão radioso e vasto, venho como seu filho e herdeiro.

7

Um estranho aqui

estranhas coisas acha, estranhas glórias vê;

estranhos tesouros aparecem alojados neste mundo tão belo,

tudo estranho e novo para mim.

Mas que meus devessem ser, de mim que nada era,

é de tudo o mais estranho, e contudo dado a acontecer.

Thursday, June 04, 2009

A concepção de amor nas Centúrias

"Hath not His Blood united you and me, cannot we see and Love and Enjoy each other at a hundred Miles Distance? (...) I Desire but an Amiable Soul in any Part of all Eternity, and can lov it unspeakably: And if lov it, Enjoy it. For Lov implies Pleasure, becaus it is ever pleased with what is Beloved. Lov GOD and Jesus Christ and Angels and Men, which you are made to do as naturaly as the Sun is made to shine, and the Beauty of the Holy Ghost Dwelling in you will make you my Delight." (C 1: 80)


Vejo nestas palavras a ligação entre o "tu" e o "eu" (“you and me”) por via de "Ele", o Deus, transcendente e imanente, na pessoa do Filho ("His Blood"): a imanência no "eu" e no “tu”, mas sobretudo na sua “comunhão recíproca”, num não tempo ("in any Part of all Eternity") e num não lugar (“cannot we see and Love and Enjoy each other at a hundred Miles Distance?), que diria decorrerem da essência trina dessa mesma comunhão.


Trad.: "Não nos uniu o Seu sangue a vós e a mim, não nos podemos nós ver e amar e fruir um ao outro a cem milhas de distância? Apenas desejo em qualquer parte da eternidade uma alma capaz de amar e poderei amá-la inefavelmente: E se a amo nela me deleito. Pois o amor implica prazer, porque se compraz sempre no que é amado. Amai Deus e Jesus Cristo e os Anjos e os homens, pois que fostes feita para o fazer como o Sol foi feito para brilhar, e a beleza do Espírito Santo habitando em vós fará de vós o meu deleite."

Wednesday, June 03, 2009

Eu mesma me espanto ante os "anjos enviados" por Traherne, mensageiros incorpóreos portadores de mensagens tão incorpóreas quanto eles. Eles são, afinal, essas mensagens. A escrita (tal como a fala), se lhes coloca limites enquanto pensamentos, também os perfecciona e potencia. Traherne nunca se queixou de da linguagem. Se esta parece ficar aquém do pensamento inverbalizado por este ser holístico, não é menos certo que a poeticidade lhe devolve com vantagem quanto possa ter perdido. É questão que desenvolverei no outro blogue no desejo de me acercar, neste espírito, dos "poemas do viandante".
É neste sentido o peregrinar de Traherne. A erva e a flor brilham aos seus olhos com maior esplendor e glória quando ascende a uma outra e maior claridade, aquela em que a visão da criança e o discernimento do adulto se unificam na mais plena fruição (enjoyment, de enjoy= en joie) do mundo, de Deus, de si mesmo e do outro. Fruição em que contemplação e acção concorrem para serem com ela uma coisa só.