Textiverso Cecília B.

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"Whether it be the Soul itself, or God in the Soul, that shines by Lov, or both, it is difficult to tell: but certainly the Lov of the Soul is the sweetest Thing in the world." (Thomas Traherne, Centuries 4:83).

Saturday, July 25, 2009

Wonder

Wonder (P: 6, 8, 10)



1
How like an Angel came I down!
How Bright are all Things here!
When first among his Works I did appear
O how their GLORY me did Crown!
The World resembled his Eternitie,
In which my Soul did Walk;
And evry Thing that I did see
Did with me talk.


Trad.:

1
Como, tal um anjo, aqui desci!
Como brilham aqui todas as coisas!
Quando entre as suas obras apareci
oh como me coroava a sua glória!
O mundo com a sua eternidade se parecia,
em que a minha alma caminhava;
e toda a coisa que via
comigo conversava.



************************


Silence

(...)
The World was more in me, then I in it.
The King of Glory in my Soul did sit.
And to Himself in me he always gave,
All that he takes Delight to see me have.
For so my Spirit was an Endless Sphere,
Like God himself, and Heaven and Earth was there.


Trad.:
(...)
O mundo estava mais em mim do que eu nele.
O Rei da glória na minha alma tinha assento.
E em mim a Si mesmo dava
tudo aquilo em que O deleita ver-me ter.
O meu espírito era assim uma esfera sem fim
como o próprio Deus e lá estavam a Terra e o Céu.

Thursday, July 23, 2009

no Gólgota como no Tabor

No meu último post transcrevi dois excertos de Traherne: no primeiro, muito breve, a dinâmica trinitária na metáfora da corrente, a ligar a nascente e o oceano ("from into the main", como o verbaliza num outro passo) é trazida a glosar a relação entre o Amigo e o eu que em exclusividade a vive; no segundo faz extravasar na palavra a plenitude da fruição mútua resultante ("He mine and I the ocean of his pleasures").
Esta experiência que persiste em Traherne para além da infância (a que nestes passos a reporta) não exclui a sua contrária. A experiência da dor e da humilhação não Lhe é, do mesmo modo, alheia e, no Gólgota como no Tabor, Deus "nunca se mostrou mais Deus do que quando se manifestou Homem":

"Is this He that was transfigured upon Mount Tabor? Pale, withered, extended, tortured, soiled with blood, and sweat, and dust, dried, parched! O sad, O dismal spectacle! (...) A mass of miseries and silence, footsteps of innumerable sufferings! (...) O Jesus, the more vile I here behold Thee, the more I admire Thee. Into what low abysses didst Thou descend, into what depths of misery dost Thou now lie! (...) In all the Depths of thy Humiliation I here Adore Thee! (...) (C, 1: 89)


(...) GOD never shewd Himself more a GOD, then when He appeared Man. Never gained more Glory then when He lost all Glory. Was never more Sensible of our Sad Estate, then when He was bereaved of all Sence. (...)(C, 1: 90)


Trad.:

"É este aquele que se transfigurou no monte Tabor? Pálido, mirrado, distendido, torturado, sujo de sangue e suor e poeira, esvaído, ressequido! Oh triste, oh dolorosa visão! [...] Uma fusão de atribulação e silêncio, pegadas de inumeráveis sofrimentos! (...) Oh Jesus, quanto mais aviltado te contemplo aqui, mais te exalto. A que profundo abismo desceste, em que profundeza de atribulação agora jazes! (...) Em toda a profundeza da Tua humilhação aqui Te adoro!(...)

(...) DEUS nunca Se mostrou mais DEUS do que quando se manifestou Homem. Nunca teve mais glória do que quando perdeu toda a glória. Nunca teve mais o sentido do nosso triste estado do que quando foi privado de todo o sentido.





Tuesday, July 07, 2009

One Golden Stream, one Spring, one only End

In that fair World one only was the Friend,
One Golden Stream, one Spring, one only End.
(“Silence”, vs 63-64)



His Gifts, and my Possessions, both our Treasures;
He mine, and I the Ocean of his Pleasures.
He was an Ocean of Delights from Whom
The Living Springs and Golden Streams did com:
My Bosom was an Ocean into which
They all did run. And me they did enrich.
(“Silence”, vs 69-74)

Trad.
Nesse mundo tão belo um só era o Amigo,
uma a dourada corrente, uma a nascente, um só o Fim.
O que Ele me dava e o que eu possuía tesouros eram nossos;
Ele o meu e eu o oceano dos Seus gozos.
Ele era um oceano de deleites de quem
vinham as vivas nascentes e as douradas correntes:
o meu seio um oceano para onde todas corriam.
E a mim me enriqueciam.

Sunday, July 05, 2009

peregrinos da Felicidade



Tal como, para Traherne, a fruição do mundo criado lhe acrescenta, aos olhos do Criador, um “suplemento” que o torna mais valioso do que quando o criou, assim o acolhimento do livro e a sua continuação o valorizarão com um suplemento que elevará aquela que a tal é suscitada às hierarquias dos anjos. A escrita é, pois, a via que pode levar a sua enunciatária (continuando ela a escrever nas páginas que ele deixou em branco) à ordem dos anjos que se aproximam de Deus pela sabedoria (os querubins).

O mesmo ensejo se infere do título que Angelus Silesius dá ao conjunto dos seis livros que compilam os seus epigramas: Cherubinischer Wandersmann (Peregrino querubínico). No último, num fecho que é uma abertura, deixa ao seu enunciatário (que não é ninguém em concreto, mas todo aquele que busca aproximar-se de Deus) uma recomendação algo semelhante: se mais quiser ler, torne-se ele mesmo a escrita e a essência (das Wesen).

Traherne vê a vida consistir em buscar a Felicidade e em fruí-la, uma vez encontrada. "Não Me procurarias se não Me tivesses encontrado já". A "saudade" da primeira infância é orientada para a busca de uma Felicidade a fruir já. Esta vem do olhar que vê com olhos de criança e com a maturidade (das "potências da alma") do adulto:

"Tis not the Object, but the Light
That maketh Heaven; Tis a Purer Sight.
Felicitie
Appears to none but them that purely see.


"Não é o objecto, mas a luz
que faz o Céu; é uma visão mais pura
a ventura
a ninguém se dá a ver
senão aos que vêem com puro olhar".

"Ver com puro olhar" ("purely see") é, para Traherne, o ver / o sentir da criança, que, na fase pré-verbal da existência, é com Deus e com o mundo uma trindade à Sua imagem.

"Unfelt, unseen let those things be
Which to thy Spirit were unknown,
When to thy Blessed Infancy
The World, thy Self, thy God was shewn"
The Instruction (P: 24)


Trad.
"Não sentidas, não vistas fiquem essas coisas
que do teu espírito não eram conhecidas,
quando à tua ditosa infância te foram
o mundo, tu mesmo, o teu Deus mostrados."