Textiverso Cecília B.

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"Whether it be the Soul itself, or God in the Soul, that shines by Lov, or both, it is difficult to tell: but certainly the Lov of the Soul is the sweetest Thing in the world." (Thomas Traherne, Centuries 4:83).

Wednesday, January 10, 2007

"Abrir a noite sob a forma de uma fonte" de Rui Magalhães (5 de Janeiro) - pensamentos suscitados

“Abrir a noite sob a forma de uma fonte” reclama de mim que me liberte de hábitos de leitura tenham-me eles granjeado um olhar que se molda ao texto envolvendo-o e penetrando-o, ou esse outro olhar que vai às margens do texto buscar a energia que lá encontra para se servir dela na desconstrução, não do texto (de uma natureza que a contempla) , mas do objecto que o olhar moldável construiu. O poema exige a rejeição de toda a perícia de que porventura o meu modo de ler se tenha vindo assim a dotar com o hábito de análise de outros textos.

Resisto à sedução de uma leitura emotiva que envolveria entregar-me a essa doce ociosidade deleitosa tanto mais doce e deleitosa quanto não faço de mim mesma enunciatária, antes do próprio autor do poema. É assim que o poema entra na vida e a vida no poema deixando de poder saber ao certo de que lado estou.

Enquanto escuto estas palavras “Abrir a noite sob a forma de uma fonte” na voz silenciosa que me permite, olhando-as, escutá-las, são imagens que irrompem, "prodigiosas", sim, sem dúvida... A minha conhecida noite, ou o que conheço da noite quando dela falo ou nela penso, abre-se não a um conhecimento outro dela, mas a uma outra forma de a conhecer, não mais minha sendo só; como se nela uma fonte brotasse rompendo-a nesse ponto. A fonte de um outro olhar. Isto sobressalta...(não é só a um eco rilkeano que estou a dar voz).

Continuarei.

Monday, January 08, 2007


Reflexão sobre "O essencial e o superficial" por Rui Magalhães em 05/01/2007:


Tendo estado envolvidas em “acontecimentos” e deles decorrentes, as “coisas” emergem enquanto tal a partir do momento em que a reflexão sobre o seu acontecer o torna re-presentação de um acontecimento (a sua redução a facto), com intervenientes e circunstâncias. No momento em que esta representação mental é verbalizada logo se lhe alia indissociavelmente uma vertente discursiva, bem como o necessário suporte material, escrito ou oral.

Tal será o processo em que a vida se torna texto?

A reflexão que me é suscitada, no entanto, é do não textual, do não modal, do não representacional que visa uma aproximação, no desejo de compreensão do modo de ser/acontecer do acontecimento, sempre por detrás e para além do que se lhe oferece feito facto.

De que natureza é esta reflexão, assim sendo? Seria como se ao termo se retirasse o significado que o étimo comporta ficando um vazio comparável àquilo mesmo de que se deseja uma aproximação?

Uma palavra. Um gesto . Um silêncio. Um movimento” são coisas ligadas à vivência pura que é o "tocar" o essencial lá onde localmente se manifesta. De onde, então, aquela "sensação" que se expressa em alemão por uma derivação de tocar/ser tocado (Berührung). “Em contrapartida coisas como “A decisão de uma vida. Um juízo” são coisas superficiais, o que se manifesta na "ordem explicada" de toda uma complexidade de teias de que os fios de que são feitas decorrem das próprias narrativas que as constroem.Coisas não essenciais, portanto, coisas ilusórias.

Friday, January 05, 2007

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Tuesday, January 02, 2007

não haver palavras para tudo

Citação
“Mais tarde – quando aconteceram as coisas que eles nunca poderiam ter imaginado – ela escreveu-lhe uma carta que dizia: Quando é que vais aprender que não existem umas palavras para tudo?” (Nicole Krauss, A História do Amor, p. 21).
(posted by RM, 27 -12-06, at 2.39 PM)

Atentei na estrutura gramatical ao mesmo tempo que (re)construía um sentido para o enunciado – o sentido que de seguida desconstruiria para me aproximar mais do coração da escrita – não já da escrita da autora, mas da de quem a cita, no citá-la. Que importa, assim sendo, quais fossem as palavras originais por debaixo das de quem as traduz (sem preocupações de rigor)? Todo o confronto de proposições conflituantes traz alguma coisa ao processo de desconstrução...
O livro chegou-me depressa às mãos no original. E bastou folhear o primeiro capítulo para encontrar o passo:

“Later – when things happened that they could never have imagined – she wrote him a letter that said: When will you learn that there isn’t a word for everything?”

... que não há uma palavra para tudo?
(... que não existem (umas) palavras para tudo... Afinal o estranhamento advém do facto de “umas” não ser o plural de “uma”... optar pelo plural será irrelevante para o caso)
Quererá dizer que “não existem palavras para (dizer) tudo” / todas as coisas? que faltam palavras? Não que lhes sinta a falta, antes que rejubila ante a “abertura” impreenchível que a preenche.

Continuo com aquela impressão de estar a tentar expressar-me numa outra língua, feita não tanto de palavras (que me são naturalmente todas conhecidas), mas de combinações de palavras que me são todas (quase) inteiramente novas suscitando sucessões de imagens que se substituem a uma linha de pensamento que consiga verdadeiramente apreender.

A experiência pura das coisas para que não há palavras também não carece delas. De onde vem que se lhes sinta, então, a falta?
É qualquer coisa inerente à “gramática” – da escrita como da vida... a experiência pura das coisas propicia-a a (leitura da) escrita ou a vivência dela?