Textiverso Cecília B.

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"Whether it be the Soul itself, or God in the Soul, that shines by Lov, or both, it is difficult to tell: but certainly the Lov of the Soul is the sweetest Thing in the world." (Thomas Traherne, Centuries 4:83).

Saturday, March 27, 2010

"Wonder" (T.Traherne)

treblechoir99 — 11 de Janeiro de 2010 — 'Wonder', text: Thomas Traherne's poem; Anthony Piccolo's music





Wonder (P: 6, 8, 10)



1
How like an Angel came I down!
How Bright are all Things here!
When first among his Works I did appear
O how their GLORY me did Crown!
The World resembled his Eternitie,
In which my Soul did Walk;
And evry Thing that I did see
Did with me talk.


2
The Skies in their Magnificence,
The Lively, Lovely Air;
Oh how Divine, how soft, how Sweet, how fair!
The Stars did entertain my Sence,
And all the Works of GOD, so Bright and pure,
So Rich and Great did seem,
As if they ever must endure
In my Esteem.


3
A Native Health and Innocence
Within my Bones did grow,
And while my GOD did all his Glories shew,
I felt a Vigour in my Sence
That was all SPIRIT. I within did flow
With Seas of Life, like Wine;
I nothing in the World did know
But 'twas Divine.


************

Continuação do poema e tradução:

4
Harsh ragged Objects were conceald,
Oppressions Tears and Cries,
Sins, Griefs, Complaints, Dissensions, Weeping Eys
Were hid, and only Things reveal'd
Which Heav'nly Spirits, and the Angels prize.
The State of Innocence
And Bliss, not Trades and Proverties,
Did fill my Sence.


5
The Streets were pavd with Golden Stones,
The Boys and Girls were mine,
Oh how did all their Lovly faces shine!
The Sons of Men were Holy Ones.
Joy , Beauty, Welfare did appear to me,
And evry thing which here I found,
While like an Angel I did see,
Adornd the Ground.



6
Rich Diamond and Pearl and Gold
In evry place was seen;
Rare Splendours, Yellow, Blue, Red, White and Green,
Mine Eys did evrywhere behold.
Great Wonders clothd with Glory did appear,
Amazement was my Bliss,
That and my Wealth was evry where:
No Joy to this!


7
Cursd and devisd Proprieties,
With Envy, Avarice
And Fraud, those Fiends that Spoyl even Paradice,
Flew from the Splendor of mine Eys,
And so did Hedges, Ditches, Limits, Bounds,
I dreamd not ought of those,
But wanderd over all mens Grounds,
And found Repose.


8
Proprieties themselves were mine,
And Hedges Ornaments;
Walls, Boxes, Coffers, and their rich Contents
Did not Divide my Joys, but shine.
Clothes, Ribbons, Jewels, Laces, I esteemd
My Joys by others worn;
For me they all to wear them seemd
When I was born.



Trad.:

Espanto



1
Como, tal um anjo, aqui desci!
Como brilham aqui todas as coisas!
Quando entre as suas obras apareci
oh como me coroava a sua glória!
O mundo com a sua eternidade se parecia,
em que a minha alma caminhava;
e toda a coisa que via
comigo conversava.


2
Os céus na sua magnificência,
o ar eivado de amor e vida ;
Oh como tudo era suave, doce, belo, divino!
As estrelas a minha consciência recreavam
e todas as obras de Deus, tão radiosas e puras,
tão ricas e grandes pareciam,
como se sempre devessem subsistir
na minha estima.


3
A saúde e inocência com que nasci
crescia dentro dos meus ossos,
e enquanto o meu Deus toda a sua glória mostrava,
no meu sentir um vigor sentia
que era todo espírito. Por dentro eu fluía
em mares de vida, como vinho;
nada no mundo conhecia
que não fosse divino.


4
Ásperos objectos esfarrapados se escondiam
opressões lágrimas e gritos,
pecados, mágoas, queixas, dissensões, olhos chorosos
se ocultavam, e só as coisas revelavam
que os espíritos do Céu e os anjos apreciam.
O estado de inocência
e ventura suma, e não afazeres e pobrezas,
a minha consciência enchiam.


5
Pedras de ouro eram das ruas pavimento,
rapazes e raparigas pertença minha,
Oh como brilhavam as suas faces lindas!
Santos eram os filhos dos homens.
Alegria, beleza, bem estar me apareciam,
e tudo o que aqui encontrava,
enquanto como um anjo eu o via,
o chão adornava.



6
Ricos diamantes e pérolas e ouro
por toda a parte se viam; raros esplendores,
amarelos, azuis, vermelhos, verdes e brancos,
por toda a parte os meus olhos contemplavam.
De glória vestidas grandes maravilhas apareciam,
o assombro era a minha suma ventura,
ela e a minha riqueza estava em toda a parte
Alegria não havia comparável!


7
Propriedades malditas e tramadas
com inveja, cobiça e fraude, demónios
que até ao paraíso causam dano,
fugiam do esplendor dos meus olhos,
assim como sebes, fossos, vedações, limites
não sonhava que dessas coisas houvesse,
mas percorria as terras de todos os homens
e repouso encontrava.


8
Mesmo as propriedades eram minhas,
e as sebes ornamentos;
muros, caixas, cofres, e o que de riqueza continham
não dividiam as minhas alegrias, mas brilhavam.
Vestes, fitas, jóias, rendas, considerava
por outros usadas alegrias minhas:
a mim todos me pareciam usá-las
quando nasci.

Sunday, March 07, 2010

"Nor Paint, nor Cloath, nor Crown, nor add a Ray,





The Person (P: 74-78)

1

Ye Sacred Lims,
A richer Blazon I will lay
On you, then first I found:
That like Celestial Kings,
Ye might with Ornaments of Joy
Be always Crownd.
A Deep Vermilion on a Red,
On that a Scarlet I will lay,
With Gold I'll Crown your Head,
Which like the Sun shall Ray.
With Robes of Glory and Delight
I'll make you Bright.
Mistake me not, I do not mean to bring
New Robes, but to Display the Thing:
Nor Paint, nor Cloath, nor Crown, nor add a Ray,
But Glorify by taking all away.

2

The Naked Things
Are most Sublime, and Brightest shew,
When they alone are seen:
Mens Hands then Angels Wings
Are truer Wealth even here below:
For those but seem.
Their Worth they then do best reveal,
When we all Metaphores remove,
For Metaphores conceal,
And only Vapours prove.
They best are Blazond when we see
The Anatomie,
Survey the Skin, cut up the Flesh, the Veins
Unfold: The Glory there remains.
The Muscles, Fibres, Arteries and Bones
Are better far then Crowns and precious Stones.

3

Shall I not then
Delight in these most Sacred Treasures
Which my Great Father gave,
Far more then other Men
Delight in Gold? Since these are
That make us Brave!
Far Braver then the Pearl and Gold
That glitter on a Ladies Neck!
The Rubies we behold,
The Diámonds that Deck
The Hands of Queens, compard unto
The Hands we view;
The Softer Lillies, and the Roses are
Less Ornaments to those that Wear
The same, then are the Hands, and Lips, and Eys
Of those who those fals Ornaments so prize.

4

Let Veritie
Be thy Delight: let me Esteem
True Wealth far more then Toys:
Let Sacred Riches be,
While falser Treasures only seem,
My real joys.
For Golden Chains and Bracelets are
But Gilded Manicles, wherby
Old Satan doth ensnare,
Allure, Bewitch the Ey.
Thy Gifts O God alone Ile prize,
My Tongue, my Eys,
My cheeks, my Lips, my Ears, my Hands, my Feet,
Their Harmony is far more Sweet;
Their Beauty true. And these in all my Ways
Shall Themes becom, and Organs of thy Praise.

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Tentei uma tradução (tanto quanto possível "semântica"):

A Pessoa


1

Vós, sagrados membros do meu corpo,
um maior lustre em vós porei
do que primeiro encontrei:
que como reis celestiais
com adornos de alegria
sempre sejais coroados.
Um vermelho profundo sobre um encarnado,
sobre esse um escarlate porei,
de ouro vos coroarei a cabeça,
que como o Sol há-de raiar.
Com vestes de glória e deleite
vos farei brilhar.
Não me entendeis mal, não pretendo trazer
novas vestes, mas expor-vos:
nem pintar, nem vestir, nem coroar, nem nada adicionar,
mas glorificar retirando tudo.

2

As coisas nuas
são mais sublimes e mais brilham
quando só elas são vistas:
as mãos humanas mais que as asas de anjos
são verdadeira riqueza mesmo aqui
pois aquelas apenas aparentam.
O seu valor então melhor revelam,
quando todas as metáforas removemos,
pois as metáforas ocultam
e só névoas mostram.
Mais brilho recebem quando vemos
a anatomia,
observamos a pele, a carne, as veias:
a glória lá permanece.
E os músculos, fibras, ossos e artérias
superam coroas e pedras preciosas.

3

Não hei-de eu então
deleitar-me nestes mais que sagrados tesouros
dados por meu Pai
bem mais do que os outros homens
no ouro se deleitam? Pois são estes
que nos fazem esplendorosos!
muito mais do que as pérolas e o ouro
que cintilam ao pescoço de uma dama!
Os rubis que contemplamos,
os diamantes que cobrem
as mãos de rainhas, comparados
às mãos que observamos;
os lírios mais delicados e as rosas
menos adornam os que os usam
do que as mãos, e lábios, e olhos
daqueles que esses falsos adornos tanto prezam.

4

Que seja a Verdade
o teu deleite: que eu aprecie
a verdadeira riqueza bem mais que as ninharias:
Sejam as riquezas sagradas,
enquanto as falsas apenas aparentam,
as minhas reais alegrias.
Pois correntes de ouro e pulseiras
mais não são do que douradas cadeias,
com que o velho Satanás enleia,
ilude, enfeitiça o olhar.
Só as tuas dádivas ó Deus prezarei,
a minha língua, os meus olhos,
faces, lábios, ouvidos, mãos, pés,
bem mais doce é a sua harmonia;
verdadeira a sua beleza. E em todos os meus caminhos
se tornarão temas e instrumentos do teu louvor.